“Os 7 de Chicago”; proteção à Democracia na temporada de premiações?
A obra primorosa de Aaron Sorkin, dissemelhante a maior parte dos dramas de tribunal, Os 7 de Chicago é sobretudo, emocionante e convulsionante ao levar o telespectador a presenciar a sensação única do que significa fazer parte da história, fazer parte de uma revolução cultural e entender como é importante estar ativamente envolvido na sociedade. Acima de tudo, para tornar sua comunidade, mais justa e igualitária quando “o mundo todo está assistindo”.

Assim que Nixon vence e sobe ao poder, a paz e justiça perdem. O contexto no qual se encontra a posse do poder de Nixon, é brevemente exposta no filme para reiterar ao público do que estava em jogo para o povo americano, além do que fora perdido em jogo pelos cidadãos estadunidenses. O ilustre sonho de Martin Luther King se torna um motivador fantástico após sua morte, seguido pelo assassinato do ex-presidente Kennedy, porém a preocupação na disseminação de ideais comunistas pelo país desencadeiam em medidas que foram postas a serem resolutas na Guerra do Vietnã e sendo assim, na intensificação da luta pelos direitos civis.
Após a morte de John F. Kennedy, Lyndon Johnson tornou-se presidente. A posição da maioria dos americanos é a de se opor à sucessão das tropas americanas na Guerra do Vietnã. Deste modo, distintos grupos se reúnem e se dão conta que não são tão diferentes quanto imaginavam, com os mesmos ideais revolucionários e justiceiros; hippies, uniões estudantis, pacifistas negros e mulheres reivindicam suas vozes, clamando pela paz e a interrupção no derramamento de sangue.
Baseando-se nos fatos, Os 7 de Chicago retrata como em 1969, sete revolucionários são acusados de iniciar tumultos contra policias americanos, decorrentes dos protestos na Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago. Embora todos os sete réus tivessem o mesmo objetivo (encerrar a intervenção militar dos Estados Unidos no Vietnã), é importante observar que nem todos se conheciam antes do julgamento. O filme então, é uma reconstituição do julgamento absurdo que se seguiu.
Em 1861, Lincoln disse em seu discurso de posse: “Quando o povo se cansar do direito constitucional de modificar o governo, ele deve exercer o direito revolucionário de desmembrar e derrubar esse governo.” Se Lincoln tivesse dito isso no Parque Lincoln no verão passado, ele seria julgado conosco.
A carga talentosíssima no elenco impressionante, acompanhado de um roteiro ágil, dá a cada um deles a chance de brilhar, sendo mais que o suficiente para se esperar que tal produção seja digna de ser mais comentada na temporada de premiações.

Conforme o julgamento vai se estendendo, ele se torna cada vez mais cativante. Aqui jaz os heróis imperfeitos que lutaram contra a corrupta burocracia e suas origens desiguais norte-americanas;
Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), estudantes idealistas, os famosos futuros da nação que acreditavam que poderiam realizar uma reforma institucional internamente. Afinal, qual melhor método de ajeitar o sistema do que se inserindo nele?
Seguidos por, Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong) radicais amantes da paz e do movimento Hippie, que almejavam alcançar uma revolução cultural.
David Dellinger (John Carroll Lynch) era um pai que prezava pelas resoluções antibélicas, um objetor de consciência.
Por fim, John Froines (Danny Flaherty) e Lee Weiner (Noah Robbins), foram os secundários afortunados por estarem lá por acaso, servindo de modelos neutros em meio às imagens radicais dos demais réus do julgamento, mas como Weiner comenta no filme: “Este é o Oscar dos protestos e, no que me diz respeito, é uma honra apenas ser indicado.” sendo assim, Sorkin ilustra a heterogeneidade neste grupo com constantes lutas internas.
Entretanto os Sete de Chicago, fora inicialmente os Oito de Chicago, o oitavo membro era Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), o caso de Seale não se inseria em conjunto aos outros 7. Diferentemente deles, Bobby passou algumas horas na cidade de Chicago, não estivera presente nas artimanhas do resto do grupo durante a Convenção Nacional Democrata, mas sendo o líder do partido dos Panteras Negras, em 1968 a imagem erroneamente interpretada fora outra para o tribunal branquelo. O oitavo e injustiçado membro é o mais angustiante de se assistir sendo refém e vítima da lastimosa violação constante aos seus direitos constitucionais “igualitários”.

Nessa performance o roteiro se transforma numa montanha-russa de emoções conexas do telespectador com a produção, intercalando entre as cenas do tribunal e os flashbacks dos momentos categóricos das 7 estrelas. Indubitavelmente, os monólogos teatrais de Abbie Hoffman se tornam a alma do processo político ao qual eles enfrentam.
Coincidentemente (ou não), a trama se desenrola com constantes relações às questões mais pautadas, tornando-se um suplemento muito bom para a história, e tomado como uma reflexão acerca da orquestra do sistema de justiça moderno, e consequentemente, instigando a contemplação certeira e urgente sobre o racismo, a violência policial e os desafios da indústria cultural na contemporaneidade. Cada diálogo se torna um punhado de ideias contrastantes, a retórica define o ritmo, as personalidades opostas moldam o ritmo da narrativa e o humor galvaniza a ação.
Apesar de que muita coisa tenha mudado desde 1968, a sociedade, em geral, evoluiu drasticamente, mas ao ponderar que certas questões ainda são fundamentais a serem revistas socialmente, deveríamos talvez começar a nos questionar a respeito do nosso papel como seres cidadãos e soberanos num estado de direito? Certamente, a resposta é sim.
Em suma, essa alusão do roteiro com os dias atuais se transforma numa captura perfeita sobre o grau de perigo quando homens incompetentes têm poderes que eles não podem compreender. Todos esses fatores e muitos outros fatores tornam Os 7 de Chicago um fascinante ensaio da proteção a democracia, aceitando que há imperfeições nas lutas pelos corretos ideais.